sábado, abril 24, 2010


Cidade Luz

Se existem amores de verão ou primavera, podemos chamar esse de amor de Inverno.
Não vamos dizer que tudo na minha vida deu certo, não mesmo. Mas bem, eu sempre fui uma garota de muita sorte. Berço de ouro – no sentido LITERAL da palavra -, pai rico, mãe famosa, carro importado, beleza natural e bo-ni-ta, definitivamente bonita. Tinha cabelos com cachos castanho-claros, olhos verdes - um verde água de dar inveja a muita gente -, pele lisa, cor de pêssego, bochechas vivas e rosadas, sem necessidade alguma de maquiagem e, segundo as medidas da atualidade, magra.
Quem me dera isso ser tudo para ter uma vida perfeita.
Eu poderia tranquilamente ser uma modelo, até já tinha tido algumas oportunidades muito palpáveis, mas colocando na balança que eu ia ter que deixar de comer pra ficar tão magra quanto era, não valia a pena. Comer é um dos maiores prazeres mundanos, eu não estava disposta a abrir mão disso. Mas também nem era preciso. Conhecida eu já era, famosa nem tanto, mas a fama da minha mãe já me bastava; meu pai era muito, muito rico, então consequentemente eu também era. Podia muito bem não ser nada na vida, mas meu orgulho era demais pra que essa ideia tomasse conta da minha cabeça. Cursava o último semestre de História da Arte e, exatamente por isso, estava sempre viajando.
Sempre, sempre mesmo tive tudo o que queria. Se eu pedisse um pedaço de qualquer lugar, eu devia ter no mínimo umas 25 pessoas pra conseguir isso pra mim. Mas não era tudo o que eu desejava, não mesmo. Queria alguém que pudesse me dar as coisas simples da vida, alguém que abrisse mão de coisas importantes pra ter um relacionamento estável, uma vida digna de contos de fada, sem a riqueza claro, até porque isso eu já tinha, mas com o príncipe encantado, não um de cavalo branco ou lindo feito o Brad Pitt (até porque, eu nem acho o Brad Pitt bonito, arg), mas alguém que fosse encantado pra mim, SÓ pra mim.
Ok ok, até aí tudo certo. Queria alguém, isso era fato, mas não tinha ninguém em mente. Sabe, chegava até a ser complicado, pelo menos pra mim, ter um relacionamento. Meu pai sempre quis um casamento com um homem “tão rico quanto ele” e minha mãe sempre quis um galã de novela das oito pra ser seu genro. É difícil juntar os dois! Por esses e muitos outros motivos, eu nunca mergulhara de alma e coração em um namoro.
Tá, eu era uma garota “pra casar”, mas por enquanto eu estava aproveitando a vida, gastando o dinheiro da minha futura herança, curtindo todas as noites que eu iria perder embalando um bebê, conhecendo os melhores lugares do mundo, mas sem ninguém melhor do meu lado. Bem, é o preço da liberdade.
Ah se eu soubesse que todo esse meu pensamento estava prestes a mudar, não teria ido viajar naquele feriado, podia muito bem ter ido à festa da mamãe, ou ao jantar do papai, qualquer coisa, menos viajar.
Se eu não me engano, estava andando nas ruas cobertas de neve em Paris (típico não? um romance como esse só poderia ter começado lá), mais especificadamente pela Rue Charlot, num brechózinho qualquer comprando umas lembranças pras amigas, quando esbarrei com ele sem querer. O infeliz derrubou minhas compras! Mas como um ótimo Parisiense, parou com tudo pra me ajudar. Fofo, não?
Ele de todo não era bonito, mas tinha os olhos, que apesar de não serem tão claros quanto os meus, aliás, nada claros, eram os olhos mais expressivos que eu já tinha visto. A boca tinha um formato bonito, era cheia e confesso que senti um certo desejo quando a olhei, o cabelo era volumoso, bem preto. Ele não parecia nada Parisiense... E não era. Bom, descobri isso depois de uma conversa num cafezinho, perto do brechó, mas isso não vem ao caso. Ele, definitivamente, era muito charmoso.
Nos despedimos, afinal. Eu tinha gente me esperando, oras. Era uma mulher importante! Mas como sempre, comigo ninguém ficava entediado por muito tempo. Por algum acaso, citei em algum lugar dessas palavras que, por mais que eu tivesse tido uma das melhores educações do país, fosse aluna dos melhores professores e cursasse História da Arte na melhor faculdade, eu era um tanto destrambelhada? Pois bem, como sempre eu tinha que me apresentar. Em um movimento um tanto quanto informal, tropecei, sem querer, juro, em uma pedra no chão e pimba! Quase caí. E ele me segurou, me enganchou, me abraçou, não sei, fez mágica pra que eu não caísse, e funcionou.
Nos tocamos, sentimos os nossos perfumes misturando-se e ficando cada vez mais doce, e nossos rostos cada vez mais perto. E como eu disse, tinha gente me esperando... A porcaria do meu celular tocou. Depois daí, eu só tive tempo pra um “opa, desculpe-me, mas tenho que ir, tome o meu cartão e quando puder, me ligue” em um Francês um tanto quanto forçado, afinal, eu tremia inteira. Ele me respondeu em Português, o que me deixou um tanto quanto surpresa, por mais que eu soubesse que Francês ele não era. Sorri, virei as costas e saí.
Fiquei aquele maldito chá de conhecidas inteiro pensando naquele homem. Eu nem sabia o nome dele, pra que tanto sentimentalismo barato? Eu estava ficando era louca. Havia inúmeros homens rastejando aos meus pés, eu não precisava de um charmoso, eu podia ter um completo. É, minha cabeça pensava assim, mas minha pernas que ainda tremiam não me deixavam esquecer dele, muito menos do perfume dele.
Fui logo pro Hotel, não aguentava mais aquelas velhas chatas perguntando da minha família e dos filmes da minha mãe, inventei uma desculpa e me mandei dalí. Pra minha felicidade, poucos minutos depois ele me ligou. Combinamos um encontro ou uma coisa parecida, ele disse que tinha uns lugares pra me mostrar e tinha toda a certeza de que eu não os conhecia, ou até conhecia, mas nunca tinha parado pra olhar. Topei na hora, pra que ficar sonhando com um homem se você podia estar na presença dele?
Nos encontramos no mesmo cafezinho em que tínhamos conversado aquela tarde, e olha, ele estava mais charmoso do que antes. Conversamos mais um pouco, tomamos mais um café (não são tão bons quanto os do Brasil, mas não deixam de ser deliciosos) e saímos andar. Fiquei surpresa ao ver que nós estávamos parando perto da Torre Eiffel, eu já a conhecia, todo mundo que passa por Paris a conhece! Ele me olhou e disse, numa voz mais linda do que os seus olhos “a Torre eu sei que você já viu, eu quero que você veja Paris da Torre”. E realmente eu nunca tinha visto, nem Paris da Torre, nem coração batendo tão forte quanto o meu.
Definitivamente era lindo, lindo demais todas aquelas formas iluminadas pela noite Parisiense, por ele, por tudo. Não acreditei quando começou a nevar, era perfeito demais pra ser verdade, eu só podia estar sonhando um romance do alto da Torre Eiffel, COM NEVE!
Bom, não era sonho e estava começando a ficar um tanto quanto frio. Ele tirou o casaco dele e me deu, disse que preferia ficar doente a me ver enferma. A única coisa que eu fiz foi rir. Mas um riso puro, um riso feliz e, como se os sinos das Igrejas tivessem combinado de tocar ao mesmo tempo, meu riso embalou a melodia do nosso primeiro beijo. Primeiro beijo, no inverno, em Paris, na Torre Eiffel e na NEVE! Quer mais o quê?
Cheguei a conclusão de que era ele, não podia ser mais ninguém. Nunca em toda a minha vida eu havia sentido coisa tão bonita quanto aquele sentimento, e olha que muitos homens tinham passado por mim. E, pela primeira vez, eu me senti segura, me senti amada, me senti completa.
Eu procurava um amor completo, e acabei achando alguém que me completasse. Procurava alguém rico e bonito, mas nunca tinha parado pra olhar a riqueza e a beleza que as pessoas traziam na alma, nos olhos, no coração.
Eu passei a querer a presença dele sempre, todos os dias de inverno, todos os dias de verão, quissá todos os dias da minha vida. Sabia que podia viver sem ele tranquilamente, mas se tivesse oportunidade de escolher, escolheria ficar ao lado dele sempre, sempre e sempre. Sabia que não estava amando, mas sabia que estava feliz, feliz demais.
Ele era perfeito e encantado, pra mim. Não me arrancou suspiros desesperados nem tirou minhas noites de sono, não me fez sentir calafrios nem borboletas no estômago, não me fez oferecer coisas que eu não poderia dar, não me fez prometer coisas que eu não poderia cumprir, não pediu pra que eu o amasse pra sempre nem falou a mesma coisa. Por quê? Porque ali, com ele, eu me senti segura, me senti nos braços de alguém especial; não nos braços de alguém que eu poderia amar pra sempre, mas nos braços de quem valia à pena tentar tamanha façanha.
E eu ia construir um amor, uma vida, daí.
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