sábado, abril 24, 2010


Lake Moraine

Saiu correndo depois que recebeu a noticia, não acreditava que tantos anos dedicados a uma só pessoa não tinha dado nenhum resultado. Agora, seus caminhos estavam distantes, separados, como se fossem dois estranhos. Estava disposta a fingir que nunca tinha o visto, sentido, tocado, olhado. Estava disposta a fingir que não o conhecia.
Correu. As lágrimas vertiam dos seus olhos como cachoeiras, escorriam pelo seu rosto sofrido, que transbordava toda a dor que seu coração sentia naquele momento. Não sabia pra onde estava indo, e não importava. Só queria ir pra longe, longe e suficiente dele.
Sentou em um banco da praça. Era outono, época de renovação, e logo ela não estava nenhum pouco renovada. As pessoas a olhavam, não tinha como não olhar. Era linda, cabelo curto e bem preto, olhos azuis, tão azuis quanto as águas do Lago Moraine, sua boca pueril, desenhada e vermelha, quase tão vermelha quanto seu sangue. Por tantas vezes tinha tentado ser invisível, imperceptível, e agora sabia por que não conseguia.
Precisava segurar alguma coisa, há muito tempo não ficava com as mãos livres das deles quando saiam de casa. Mexeu na bolsa, procurou, revirou, re-revirou. Acabou por pegar o celular. Quatro chamadas não atendidas. Ele. Era quase impossível acreditar que ele voltara a correr atrás dela, depois de tudo, depois dos olhos fervilhando de raiva por uma coisa que ela sequer tinha conhecimento. Depois de todas as palavras ditas, os horrores pronunciados negando todo o amor que um dia, talvez, ele tivesse sentido.
Continuava querendo fugir, sumir, evaporar. Ainda mais agora que sabia do arrependimento dele. Fechou o celular e jogou longe, com toda a força, com toda a raiva, com toda a angústia que alguém poderia sentir em um momento como aquele. Viu, de longe, o aparelho atingir o chão em câmera lenta, cada pedaço indo pra um lado diferente: a bateria, o teclado, o display, tudo. Mas ainda assim, nada reduzia aquele aperto no peito.
Um carro passou, lento, perto de onde ela estava sentada. Pelo vidro filmado, enxergou seu reflexo. Nada nela parecia igual, nada nela parecia o mesmo. Os olhos claros ainda estavam lá, a boca vermelha talvez estivesse tão vermelha quanto antes, mas a expressão mudara e, naquele momento, sabia que não era mais ela. Sabia que alguma coisa dentro dela havia mudando, sentia que alguma coisa não era mais como antes, sabia que, a partir de agora, tudo ia ser diferente.
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