sábado, maio 29, 2010


Você é o Que Ninguém Vê

"Você é os brinquedos que brincou, é os nervos a flor da pele, os segredos que guardou, você é sua praia preferida, aquele amor atordoado que viveu, a conversa séria que teve um dia com seu pai, você é o que você lembra...
Você é a saudade que sente da sua mãe, o sonho desfeito quase no altar, a infância que você recorda, a dor de não ter dado certo, de não ter falado na hora, você é aquilo que foi amputado no passado, a emoção de um techo de livro, a cena de rua que lhe arrancou lágrimas, você é o que você chora...
Você é o abraço inesperado, a força dada para o amigo que precisa, você é o pelo do braço que eriça, a sensibilidade que grita, o carinho que permuta, você é a palavra dita para ajudar, os gritos destrancados da garganta, os pedaços de junta, você é o orgasmo, a gargalhada, o beijo, você é o que você desnuda...
Você é a raiva de não ter alcançado, a impotência de não conseguir mudar, você é o desprezo pelo que os outros mentem, o desapontamento com o governo, o ódio que tudo isso dá, você é aquele que rema, que cansado não desiste, você é a indignação com o lixo jogado do carro, a ardência da revolta, você é o que você queima...
Você é aquilo que reivindica, o que consegue gerar através da sua verdade e da sua luta, você é os direitos que tem, os deveres que se obriga, você é a estrada por onde corre atrás, serpenteia, atalha, busca, você é o que você pleiteia...
Você não é só o que come e o que veste. Você é o que você requer, recruta, rabisca, traga, goza e lê.
Você é o que ninguém vê."

Martha Medeiros
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sexta-feira, maio 21, 2010


Só às Vezes

Tem vezes que as coisas não saem como a gente quer, as palavras voam da boca como se criassem asas do nada, a raiva explode e atinge quem não merece, quem não precisa, quem a gente ama. Tem vezes que nada sai como o desejado: a roupa não serviu, o salto do sapato quebrou, o carro enguiçou, as coisas não dão certo, um coração é partido, uma companhia vai embora sem dar tchau. Às vezes a gente diz o que nunca sequer pensou, porque em um instante, eis que surge um argumento para justificar um sentimento que, se for estudado a fundo, nem existe. Não temos culpa se a saudade corroi, se o tempo passa e as pessoas mudam, se o namoro a distância é difícil pra caramba, e mesmo sendo difícil assim, a gente sonha com a pessoa amada todos os dias. Não temos culpa se a viagem não deu certo, se a câmera estragou e as fotos queimaram ou foram deletadas; não temos culpa se um namoro acabou, é certo que os dois tentaram. Também não temos culpa se estamos apaixonados: olhar nos olhos de alguém e se achar lá dentro é raro, então aproveite. Às vezes, é verdade, a gente faz, pensa, fala coisa errada, procura um jeito de se redimir e não encontra. A gente sente todos se afastando, como se não houvesse volta, como se tudo estivesse perdido. Às vezes, por insegurança ou por amar demais, ou até pelos dois, a gente acha que está sendo deixado de lado por qualquer bobagem, mesmo que essa bobagem não seja realmente bobagem. Às vezes a gente erra, muda, pede desculpas e nada resolve. Às vezes a gente sente medo de não conseguir resolver. Às vezes a gente só quer que tudo seja o que era e como era antes, mesmo sem saber se isso é possível...

"Quero você aqui comigo quando for possível, mesmo que isso seja impossível."
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