quinta-feira, agosto 26, 2010


Você é feito de quê?

Somos feitos de tudo.
Somos sonhos interrompidos que vão recomeçar. Somos palavras não ditas, sentimentos não sentidos, cenas não olhadas, vozes não ouvidas, coisas não vividas. Somos o que está por vir.
Somos flores que nasceram e as que vão nascer também. Somos o espetáculo que o sol nos dá quando surge e nós estamos dormindo. Somos o sol se pondo, a lua surgindo, o vento na janela, o vapor, o embaçado, o molhado, a chuva, o frio, a neve, o gelo. Somos intensidade.
Somos o grito fugido da garganta, o cabelo voando, o pulo do penhasco, o salto de pára-quedas, o cair da bicicleta. Somos a roupa nova, o sapato alto, a blusa justa, a maquiagem, a festa toda. Somos o moletom surrado, a calça jeans esfarrapada, o cabelo preso, a cara de sono. Somos reinventados todos os dias.
Somos o choro, a vela, o peito, a alma. O amor que arranca sorrisos e destroi corações. Somos o livre dos pais, o querer fugir sem voltar, o fugir pra voltar. Somos a briga, o escândalo, o doer, o penar, o viver. Somos um turbilhão de ideias malucas.
Somos o arrepio, o suor, o orgasmo, o toque, o gemido, o abraço, o beijo. Somos o sentir, o transbordar, o acariciar. Somos a experiência nova, o erro velho, o aprender a seguir em frente, o não olhar pra trás. Somos a saudade de quem foi, a tristeza de quem não volta, o perto longe, o longe perto, a solidão de estar cercado de gente. Somos à flor da pele.
Somos o livro, o caderno, o diário, a matriz. O claro, o confuso, o correr, o andar.
Somos o que reservamos para viver, o que pensamos em fazer, os planos na folha de rascunho, nas lembranças, nas conversas, no travesseiro. Somos os olhos de quem vê. Somos o que comemos, o que vestimos, o que falamos. Somos o que ninguém vê.
Somos o que temos por dentro, o que mostramos por fora, o que rezamos para ser e o que não somos. Somos o que falhamos, o que deixamos, o que conseguimos, o que batalhamos. Somos a luz do quarto, o escuro da noite, o fosco, o opaco, o colorido, o preto e branco da foto. Somos o que queremos ser e, se fossemos tudo o que queremos, não seríamos nada.



Somos feitos de tudo, um tudo cheio de nadas.
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